COM UM PÉ NO ADULTÉRIO E OUTRO EM UM NOVO CASAMENTO - Parte 1

Eu sempre escolho coisa errada. Depois de 43 anos de um casamento de mentira, fracassado, onde eu só obedecia porque eu não tinha pra onde voltar. A minha mãe dizia que não aceitava devolução, então durante 43 anos eu sofria tanto que desaprendi a sonhar, porque quando não se concretizava, vinha o sofrimento e o desamparo, vinha um nada. Você já pensou se sentir um nada? Pois é, durante 43 anos, longos anos, transforme isso em segundos, minutos, horas e dias. Pra mim eram todos iguais. Marido que tudo era pecado, superciumento e eu nunca dei motivo, nunca traí. A minha mãe adoeceu, eu vim cuidar dela e aí o casamento, que era uma mentira, virou uma verdade, acabou. Eu sou grata ao meu marido porque temos uma história de vida, de companheirismo. Agora sim, mas até uns 20 e poucos anos eu não chamava, não tinha pra onde ir, então eu aceitava, me calava e pronto. Através de uma doença, Deus me mostrou que era possível voltar a sonhar e me botou na mão de um anjo, que segundo ele, gostou de mim desde a primeira vez que me viu e olha que foi na Santa Casa de Londrina, no SUS. A ironia é que ele quer casar e eu não sei se estou pronta para outro casamento. Eu fui acostumada a fingir o que eu não sentia, dormir tendo relação sexual com meu marido, que era uma obrigação como esposa. Pra mim, eu gosto dele como amigo, nem como pai dos meus filhos, porque nós dois aí fracassamos, mas o casamento era uma mentira, como eu disse antes. 

Mas se o casamento era uma mentira, como é que os filhos poderiam ser de verdade? Não tinha jeito. Mesmo assim, todos são concursados e passaram bem colocados nos concursos que fizeram, em primeiro e segundo lugares. Pelo menos gente, são, mas eu gosto de outro que vive viajando, parece caixeiro-viajante ou um piloto frustrado.  Um tem 63 anos e o outro tem bem mais, bem perto de 10 anos a mais do que o outro. É, isso é muito meu mesmo. Eu jogo a criança e crio a placenta.

Desde nova, todo mundo gostava de rapazes novos, bonitos e eu gostava dos velhos, tanto que meu apelido era reumatismo. Agora estou eu com essa dúvida: Um pretenso amante que eu achava que ia ter, mas sabe, eu vou ficar com o de 63 anos. Me trata como uma rainha, é meigo, a filha dele é um amor comigo, não é pão-duro, faz caridade, não é egoísta, como eu disse antes, era um anjo e lugar de anjo é no céu. Aí tenho o medo de perdê-lo, o inevitável. Ó dúvida, mas com o outro eu também não quero, porque estou cheia de dúvidas a respeito dele e já não dá certo começar com dúvida, levando em conta que eu comecei o primeiro na mentira, considerando que foi a mamãe que arranjou tudo, me fazendo eu me casar com ele. Olha que dúvida horrível! Mas sabe de uma coisa, meus amigos? O segundo é o primeiro perdedor e eu não gosto de estar em segundo lugar em nada, principalmente, acima de tudo, cheia de dúvidas quanto ao caráter dele, é dúbio, fica parecendo que só há interesse sexual porque quando ele está longe, eu não existo, então que pague uma prostituta na rua, ou será que é tão pão duro a esse ponto? Problema dele.

Kátia Paes