ADEUS ÀS ILUSÕES

A terra é preparada, joga-se a semente, nasce um arbusto, depois vem a árvore, essa árvore cresce, dá frutos e os frutos viram outras árvores que dão mais frutos e aí, como um passe de mágica, cresce outra árvore, que não pertence à mesma espécie das duas anteriores; nem fruto ela conseguiu dar direito. Nela só fazem pouso os passarinhos e borboletas. Ela se apaixona pela árvore grande e frondosa, porque ela é o que sempre quis ter tido. 

Mesmo que os frutos da árvore não sejam doces, até meio aguados, mas não interessa, não são dela e a raiz da primeira árvore é tão forte, tão fabulosamente largas que entram terra adentro que nem a maior tempestade derruba. Ela coitada, não passa de um pequeno arbusto e então para e pensa que é melhor ficar com os pássaros, as borboletas e as abelhas porque elas são verdadeiramente delas. 

"Eu sou um arbusto pequeno e Deus sabe porque me fez assim. Como eu posso disputar com uma árvore tão grande e tão frondosa? Eu, uma árvore tão pequenininha que a minha beleza só é notada pelos animais pequenos. Como eu fui arrogante em achar que eu poderia ter parte naquela árvore tão bonita? Eu nunca seria aceita e sempre sofreria. Na verdade, eu já estou cansada de sofrer. É melhor recolher-me na minha insignificância e não olhar o que não posso ter."

"Certa noite, uma tempestade horrível. Ventava fortes ventos e eu ia de um lado para o outro, dobrava e não quebrava, dessas coisas que a gente não consegue explicar. Na manhã seguinte, assim que o sol raiou e a tempestade cessou, eu olhei para aquela árvore tão grande e tão frondosa e ela sucumbiu à tempestade, ela estava no chão e eu ouvi quando o capataz disse: - "Olha! Raízes tão fortes, tão largas, você jurava que eram sadias, mas estavam todas comidas por cupins e aquela ali tão pequenininha, tão frágil, sobreviveu" - E é assim que eu quero continuar: pequenininha, insignificante, mas verdadeiramente viva."

PS: Pra quem não entendeu, essa história se trata de uma família que parece ser feliz, forte, mas na verdade é podreira dentro, corroída por larvas.

Kátia Paes