AMOR OCULTO


Eu tenho um amor oculto há 41 anos. É uma pena porque eu estava grávida do meu marido quando eu o conheci. Casei-me porque a minha mãe mandou, porque se eu fosse solteira eu receberia a pensão do meu pai, então eu casei, eu era obediente. Naquela época as moças ainda eram bem obedientes e burras, totalmente burras, arriscavam jogar para o alto a sua felicidade à toa. A minha mãe se esqueceu que ao me casar, aos 16 anos, eu era uma menina, eu brincava de boneca, meu Deus! Eu não gostava do rapaz, mas era novidade, me casar, ser chamada de Dona! Ai que coisa imbecil, meu Deus!

Esse amor cresceu tanto durante esses 41 anos que a única tristeza que eu tenho é que ela acha que eu gosto de todo mundo, menos dele. Fora o meu marido eu nunca tive outro homem, deveria ter tido, médicos ricos, engenheiros fantásticos, dinamarqueses. Não vou dizer que não mexeram com a minha vaidade, mexeram, mas não com o meu coração.

Eu fico triste, muito triste, depois dele me mandar casar com outro, ou deve pensar que eu o procurei por dinheiro. Eu não preciso disso. Se eu não me casei com um muito rico eu não iria me casar com ele que era menos rico, mas eu fiquei triste porque eu vi, por ele não notar nos meus olhos tanto amor. Será que eu não era correspondido? Eu fiquei 41 anos amando um “nada”, ou talvez, um “quem sabe”. Um dia, nem que seja um dia, nem que seja meu último dia na terra, eu queria um beijo dele, para me sentir realizada, mas agora que eu vi que meu amor é totalmente indiferente a ele, cinco das maiores decepções. A decepção de 41 anos de ilusão.


KÁTIA PAES

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