A CORUJA

 

Estava eu namorando uma coruja linda que eu vi em uma loja e eu a olhava, olhava, era um amor mútuo porque eu era correspondida, aí em certo momento, uma senhora judia aproximou-se de mim e perguntou:

- Por que você olha tanto pra ela? É feia... olhão... gira a cabeça, é muito feia, você tem um péssimo gosto e além disso, ela dá azar!

- Pra mim, ela me dá sorte. Eu fico horas e horas contemplando o giro de sua cabeça, o abrir de suas asas e a ótima mãe que ela é para seus filhotes, tanto que, uma mãe ao ser tão apaixonada pelos seus filhos, dá-se a alcunha de 'mãe coruja'".

Nada disso a convenceu e ela continuava:

- Ela é peçonhenta, ave de mau agouro, dá azar na vida da gente.

- O que a coruja lhe fez para ter tanta raiva dela?

- Pra você não gostar de alguém, precisa de alguma razão? Não se gosta, e pronto! Eu, por exemplo, detesto minhas noras! Você vai levar mesmo esse animal agourento, que traz má sorte? Talvez com minha história, você mude de ideia e deixe essa coruja onde ela está, na prateleira da loja, bem lá vai: certa vez, quando eu morava em São Paulo, no meu aniversário alguém teve o mau gosto como o seu e me deu uma coruja, como esta aqui da loja, estragou meu aniversário. Imagine eu ganhar o bicho que eu mais detesto!

 - Existem bichos piores, o homem que faz mal a quem nada lhe fez nada.

- Sabe o que eu fiz quando aquela malparida saiu da minha casa? Eu abri a janela e simplesmente a joguei com toda a força por ela!!

- É sério que a senhora morava no décimo primeiro andar?

 - Claro, eu não sou senil ainda, pelo menos eu não fico namorando coruja.

 Então, eu, pensativa, sem querer ser grossa e desrespeitosa pela idade dela, conferi:

-Tem certeza? A senhora jogou do décimo primeiro andar, mesmo?

Ela, toda empolgada, me disse:

- Claro! Até ouvi o barulho dela cair e quebrar, se estraçalhar, então entrei e fechei a janela.

- Escute, me diga uma coisa: a senhora ainda acha que a coruja dá azar? Quando a senhora a jogou, acertou alguém?

Ela então, já surpresa, me diz:

- Oras, claro que não! Eu a ouvi se espedaçar!

- Então a senhora ainda acha que ela lhe dá azar? Pois eu acho que ela lhe dá é sorte porque ninguém morreu, ela não caiu em cima de inocente algum que passava embaixo. Qual rua a senhora morava lá em São Paulo?

- Na Rua Augusta, ela me disse tranquilamente e concluí:

- Essa coruja lhe deu é sorte! Se ela mata alguém na rua, ou a senhora estaria agora ou na prisão ou no manicômio, menos conversando comigo neste momento.

Ela arregalou os olhos, olhou fixamente em mim, pensando, calada, e simplesmente se esvaiu mais rápido que o vento.

Até hoje, quando a encontro em Copacabana, ela atravessa a rua ou, no supermercado, quando não tem jeito, eu a cumprimento e lhe pergunto se ela ainda joga coruja pela janela, afinal, nós estamos na Avenida Copacabana, mas para minha surpresa, ela diz, "Não, eu moro na Santa Clara, lá tem marquise e se eu jogar, cai lá". Falar o que?   

 

Escrito por Kátia Paes em 29/01/2021.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

PAPEL HIGIÊNICO

KATIA PAES 24 x 0 SCAMMERS - PLACAR ATUAL

INVEJA - O PIOR DOS PECADOS