COMENTÁRIOS LITERÁRIOS - MADAME BOVARY (Análise)


BOVARISMO - Em termos psicológicos, o bovarismo consiste em uma alteração do sentido da realidade, na qual uma pessoa possui uma deturpada autoimagem, na qual se considera outra (de características grandiosas e admiráveis), que não é. Em termos mais gerais, o bovarismo faz referência ao estado de insatisfação crônica de um ser humano, produzido pelo contraste entre suas ilusões e aspirações (que geralmente são desproporcionadas tendo em conta suas próprias possibilidades) e a realidade frustrante[1]. Pode ser caracterizada como uma forma de mitomania.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bovarismo


Eu não concordo, pois ela era infeliz e toda mulher infeliz pega uma válvula de escape ou vai ter compulsão por comida ou por gastar com roupa. Vai suprir a sua carência. Esta definição psiquiátrica deprecia uma pessoa. Quem desenvolveu a teoria do bovarismo, M. Jules de Gaultier, não a conhecia, não viveu junto com ela para dizê-lo de forma tão aguda. Eu respeito sua teoria, no entanto, eu tenho a prática diária de ter um Charles Bovary na minha vida. Desde a era dos homens das cavernas, a humanidade já era bovsrista, senão não teríamos nenhuma criação. A necessidade é a mãe da invenção e a busca da perfeição torna-nos bovaristas, exceto se você nasceu em berço de ouro e está feliz em todos os sentidos, o que eu duvido. A Bovary cometeu erros. Em 1857, ano da publicação do livro, a injustiça sofrida por Gustave Flaubert pelo povo, que tinha a opinião igual a acima descrita, fez um gênio ser injustiçado. Vamos fazer um pequeno aperitivo da defesa de Emma Bovary, pois sou humana e quero ir pra praia. Que fique registrado que eu não faria o que ela fez, mesmo a minha vida sendo semelhante no que tange a época dela solteira em alguns tópicos:

1) Ela não tinha mãe, tinha um pai chato, egoísta, que ela tinha que cuidar da doença dele;

2) As moças tinham que se casar cedo e ela estava passando da idade. Até hoje, qual mulher não quer se casar com um médico visando o dinheiro de plástico dele e seu status de médico? Seriam elas uma espécie moderna de Emma Bovary também? Afinal, o médico é o marido, não elas, vide a definição de Bovarismo acima descrita. O fato do marido ser médico e não elas, cria nelas uma expectativa de poder gastar e muitas vezes até humilhar pessoas por seu status social, ex: "ah, meu marido é médico, é oncologista (entre outros "istas")", bom, todos precisamos da felicidade, é vital, é o oxigênio da vida para nos mantermos vivos;

3) Então, vamos incluir aqui os suicidas, que, como Emma, deram cabo a sua vida, assim como o adultério feminino. Qual mulher aguenta um homem chato, velho e sem ambição? E pior, tem aqueles maridos que têm nojo da mulher, só faz o papai-e-mamãe e dane-se;

4) Quando se trata do adultério masculino, ele conta aos amigos dele: "ela só faz papai-e-mamãe, é pudica demais, não tem libido e a fulana faz tudo o que eu quero, dá até um nó em mim". E nós mulheres não podemos dizer isso, por medo ou pelo julgamento de outras mulheres;

5) Quer ver uma mulher feliz? Leve-a ao shopping center, dê dinheiro a ela ou o cartão, dizendo que ela pode gastar o que quiser, sem limites. Meu filho, ela vai comprar até o que não precisa, mas você vai ter por algumas horas uma mulher felicíssima;

6) A Madame Bovary - Emma - para mim, não procurava dinheiro, mas felicidade, alguém para acabar com a vida medíocre que ela tinha, mas infelizmente ela trocou 6 por meia-dúzia, um pai velho e doente por um marido chato, mentiroso, sem opinião própria, medíocre.

Comentário à parte: há um momento do livro em que Charles chama Emma para dormir e diz : "Emma, il est déjà tard, viens!" e tem relação com ela, ao mesmo tempo que ela olha para o teto com uma expressão de tédio, de suprema infelicidade. Quantas mulheres gemem demais ou fingem uma dor de cabeça pra ficarem livres do ato sexual e do marido que, ao se verem satisfeitos, viram para o lado, dormem e para completar, ainda roncam. Então elas são doidas? Possuem doença psiquiátrica? Não.

7) Em uma parte do livro quando o M. Lheureux, o mascate, chega para analisar os bens de Emma para a execução da dívida para com ele, ele lhe dá a entender que se ela fosse sua amante, a dívida estaria perdoada. Ela se ofende terrivelmente por ele achar que ela é promíscua e ataria como amante. Ela fica indignada e isso mostra que ela procurava amor. Quantas de nós não procuram isso? As ingênuas, pois as espertas, procuram o dinheiro de plástico. 

8) Ao ver que ela não tem apoio nem compreensão para a sua dívida, ela se dirige à botica de M. Homais, o boticário (esse sim um real Bovarista, pois queria ser médico sendo farmacêutico e foi o responsável com o que aconteceu com Hippolyte ao convencer Emma a aceitação da tentadora operação que daria fama e dinheiro à Charles e se há um culpado, esse é M. Homais), enche a mão de arsênico e o toma. Uma prova da total não-culpabilidade dada à Emma é que mesmo com ela morta, M. Homais convence Charles, já financeiramente falido, a fazer um túmulo altamente requintado à Emma. É sempre bom lembrar que morto não gasta dinheiro, não come, não bebe e muito menos exige túmulos faustosos, fui clara? Se existe uma vítima realmente, foi ela e sua filha Berthe, pois com a morte do pai, ela vai morar com parentes, esses morrem e ela vai trabalhar como empregada em casas de família, enquanto Homais recebe uma comenda e mostra toda a sua arrogância que no fundo é um grande complexo de inferioridade. Então, no lugar de Bovarismo, deveríamos colocar Homerismo

Coitada da Emma, cujo único pecado e grande erro foi acreditar nos homens: Rudolphe, Léon, pois quando ela precisou, viraram-lhe as costas.

Emma, depois de todos esses anos, você continua super atual, para o bem e para mal, com um exército de mulheres fazendo o que te condenaram.

Kátia Paes



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