PEQUENA BARATA
Eu acho interessante quando me
perguntam se eu li A METAMORFOSE de Kafka. Eu nunca li, mas eu sei que talvez a
semelhança seja devido a tristeza causada pela criação com indiferença e maus
tratos. Eu apanhava de cabide, de vassoura, de tudo que tivesse próximo a mão
da minha mãe. Não sei se é o caso dele, mas indiferença também.
A minha mãe assinou para eu casar sem
eu estar grávida nem nada, eu tinha 16 anos, então eu me identifico na parte
que ele fala da barata. Se eu me transformasse em uma barata eu queria que
fosse uma daquelas pequenas, porque ela mataria. Se fosse das maiores ela
deixaria a barata em paz, não mataria ou mandaria outra pessoa fazê-lo. Não
existe coisa que magoe mais a indiferença de um pai ou de uma mãe, e a
indiferença entre irmãos, tudo para um e para o outro nada. Só quem foi vítima
disso, sentiu na carne e no coração, me entenderá.
Agora eu vou ler a metamorfose. Saber
que teve outro alguém além de mim que se destruiu por isso aos poucos, cada dia
um pouquinho, em doses homeopáticas. É muito triste. Eu acho que ainda não li
Kafka por saber que a criação dele foi semelhante a minha. Vou sofrer por mim e
por ele. Relembrar coisas tristes é sofrer 2 vezes. Pra você ter ideia, minha
mãe só me deu 1 beijo, no meu casamento, porque ela estava se livrando de mim e
o mundo é redondo, eu cuidei dela no final.
PS: Nós só desejamos ser um inseto
quando nos achamos inferior a eles, quando não temos autoestima alguma. Como
não podemos ser insetos nos autodestruímos.
Katia Paes
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