UM AMOR DE INVERNO
Todo mundo tem ou deveria ter
um amor na vida, um amor incondicional, forte, que por ele fossemos capaz de
tudo, se bem que, na minha opinião, quando ele é verdadeiro, ele não pede, só
dá e, infelizmente, não são todas as pessoas que, na minha vasta ignorância,
têm essa sorte, na verdade, declino eu que só uns 20 por cento as têm.
Quantas vezes eu vi casais
que pelo ímpeto da juventude se casaram jurando amor eterno, porém a eternidade
não aguentou um ano. “Ah, mas eu tenho que casar, eu tenho que procurar outro”,
aí casa de novo, erra pela segunda vez porque o amor não é uma fruta, uma carne
ou uma mercadoria que você acha no supermercado ou em qualquer loja,
principalmente as de conveniência, e tem aqueles que simplesmente se casam
porque todo mundo está se casando e aí dão o passo mais errado da vida. Desses,
eu tenho realmente pena porque eles mesmos se enganam.
O engano é partícipe do erro,
do sofrimento, alavancado pelo segundo de bobeira, ou pelo orgulho ferido. Há
aqueles que são enganados pelas moçoilas que fingem não dar importância ao
dinheiro deles, os tratam com educação e frieza pra pegar o trouxa que é rico e
que as mulheres ficam todas em cima, então ela não poder ser igual as mulheres
que ela tem que fingir ser diferente das outras, que ele é indiferente a ela,
mas lá dentro do seu âmago, ela repete: “Eu vou casar com esse trouxa, eu vou
casar com esse trouxa” e, como uma aranha em caça, pega a pobre mosca incauta
na sua teia e a mosquinha se achando, que conseguiu a única mulher que não
ficava atrás dele, acha-se o homem mais feliz do mundo, mas não olha ao seu
redor e não vê que está numa teia, teia pra mim é sinônimo de prisão, é muito
difícil você sair, aí um dia ele descobre que a linda mocinha com quem ele
casou só queria sair da miséria intelectual e material que vivia, pais
humildes, ela já não tão nova... ah, de repente o medo dele sair da teia, o que
ela faz? Engravida! E como uma mulher em gestação geralmente se torna mais
difícil de conviver por causa dos hormônios mesmo que ame seu marido, o que
dirá uma que não o ama e só queria o status dele? Nasce a criança, ele continua
se afastando, não tem outro jeito, é outra gravidez, quem sabe um sexo
diferente, ele melhore. Nessa altura a mosquinha já sacou que a teia está
ficando maior e no lugar de uma aranha, tem três. Ele vai e faz vasectomia, não
mais aranhazinhas, aí começam a vir as traições. A mosquinha acha várias outras
mosquinhas e, como é vasectomizado, filhotes de aranha não mais terão, nem de
mosca, nem de formiga, ele está livre pra fazer a cabeça de baixo feliz, já que
a de cima, nunca será. O tempo passa, passa o tempo, haja traição, chega a
velhice, é fato, ele nunca gostou dela e nem ela dele. Pra não a chatear, ele
fez os seus gostos. Certo dia, numa praia, a cabeça de cima vê a mulher da vida
dele, pra azar dele, essa é honesta. Ele a maltrata, afinal, ela o ignora, mas
é como se ele fosse um nada, até que um dia, ele vai falar com ela, a
indiferença se faz companheira da conversa e aquele amor crescendo, crescendo,
aí vocês me perguntarão: ela não sente nada por ele? Eu lhes responderei,
sente, mas eu lhes disse que ela era honesta. Em certo momento, ele diz: “Eu
vou na sua casa”. Ela pensa: “que petulante!”. Ele vai na casa, mas ela não
deixa entrar. Aí algum tempo passa e ela se apercebe que gosta dele, mas ao
mesmo tempo que gosta dele, ela vê seus defeitos. Até que um dia ela aceita se
encontrar com ele. Como ela nunca tinha traído o marido, deve ter sido sem
graça. Ela se sentiu assim, mas aí ele marca outro encontro e ela vai se
apaixonando por ele. Ela nunca fez exigência, nunca pediu nada, ela só o amava,
como uma adolescente ama pela primeira vez! Mas esse mundo melhor seria se a
inveja não reinasse. Aí um dia, um comentário maldoso de uma pessoa também
maldosa, perguntou se eles já tinham “dado uma rapidinha”. Eu quero recordar
você que, nesse tempo todo, ela era casada e ele também, então ela nunca fez
exigências, mas quando esse ser maldoso fez esse comentário. Ela, na sua
ingenuidade, já contou a ela. Um dia ela chegou chorando, disse ele a ela que
ele não ia arriscar a esposa dele, tão amada e tão chata, parece um urubu
albino e baleado! Não estou dizendo isso porque ela levou fora, mas é porque é
verdade mesmo. Ela chegou pro filho dela e falou: “Eu não sei o que eu fiz.
Hoje eu fui pisada, humilhada e ele disse que não ia trocar a esposa dele por
uma qualquer”. “Meu Deus”, pensou ela, “eu queria que uma faca trespassasse
minha alma, não só o coração. Eu nunca tive outro homem”. Aí eu pensei, meu
casamento foi por conveniência, eu avisei o meu ex, eu tinha dezesseis anos! Eu
nunca na vida pensei em desfazer casamento de ninguém, eu sabia que era a
outra, e como a outra, eu devia me comportar.
É fácil, de repente como uma
pessoa acaba com teu amor próprio, a troco de quê? Ele fugia de mim como se eu
fosse um bicho sarnento, mas eu confio muito numa lei da causa e efeito. Eu
evitava sair, ficar junto dele, em qualquer lugar que fosse, mas me doía e
mesmo assim eu não conseguia nem olhar pra outro homem por ter ficado tão
diminuída como ser humano, um ano assim. Como se escraviza uma mulher que não
ama, porque se amasse, não teria traído tantas vezes. Hoje ela diria pra vocês:
não amem, amor maltrata! Não faça sangrar seu coração.
Certo dia ele disse que iria
na casa dela, ela deixou, mas tinha se quebrado alguma coisa. Enquanto eles
estavam juntos, ela pensava: “você não está à altura da minha esposa, você não
é digna de eu deixar minha esposa por você”, as palavras do término voltavam
como se fosse fogo a queimar, mas ela foi uma excelente atriz, uma vez por ano
só. Ele é importante pra ela. Ele disse: “vamos fazer como antigamente, estou
com saudade de você”, ela não deu nem resposta, não é possível que ele a ache chita
de uma fazenda vagabunda tão ou como um cachorrinho que a vida maltratou tanto
que é só assoviar e ela vai. Ela não respondeu. Eu digo a vocês, eu tenho a
certeza que ela é a chance de vida dele, mas ela sempre vai dizer “não” porque
velhice não é sinal de amadurecimento, ela prefere ficar só, mesmo amando do
que se machucar de novo.
Como eu disse antes, ela sabe
o lugar dela e esse lugar ela não quer mais voltar, portanto, pense bem antes
de blasfemar que vocês não amam e não são amadas, que todo mundo tem uma amor
na vida, mas, às vezes, como diz o velho ditado: “é melhor a realidade dura,
crua, do que uma doce ilusão, porque vai ser sempre uma amarga ilusão”.
Kátia Paes
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