EU, O NADA
Hoje eu descobri o quanto
eu fui, sou e serei um nada para a minha mãe. Não sei descrever a dor do ser
nada. Nada é nada, como posso sentir alguma coisa? O Nada não chora, não ama,
não é amado, não é encontrado na rua, é completamente indiferente, então se eu
sou um nada, eu sou um pouquinho indiferente, pois sinto falta de você mãe,
mesmo depois de tudo o que a senhora fez. Casou-me sem eu gostar do rapaz, só
porque se eu não casasse a pensão do meu pai seria minha, da filha solteira. A
senhora me fez muito infeliz, porque casar já é difícil, mas casar com quem não
gosta... mas eu sou um nada. A senhora me dizia: “Ninguém vai olhar para você,
você é tão feinha, casa logo com esse”. Eu casei para lhe agradar e me
estrepei. Eu tenho respeito por ele, amor jamais tive e jamais terei. O coração
é independente à vontade de mãe.
Em compensação com o meu
irmão, o Tudo, tudo era de melhor. O melhor brinquedo era dele, ele queria uma
bicicleta e teve, eu pedi 5 anos por uma e desisti, mas enfim, ele tinha
bicicleta, tinha tudo do melhor. O melhor bife era dele, a melhor coxa de
frango era dele (ainda bem que não gostava de coxa de frango e até hoje não gosto).
Eu comia depois dele e se ele comesse demais e não sobrasse para ninguém, a
gente fritava um ovo e comia, mas Deus achou que devia mudar as coisas, certo
dia você amanheceu doente. O Tudo sumiu, quem cuidou de você, deu banho, trocou
fralda, cuidou de todas as suas necessidades foi o Nada. Fui eu mamãe, sua
filha, o Nada. Largou marido, largou casa, largou tudo e veio para ficar com a
senhora, onze meses eu fiquei com a senhora. Onde estava o Tudo? Te roubando,
com teu consentimento, porque você deu uma procuração de plenos poderes a ele.
Moral da história: eu
continuo nada, sem nada, e ele o tudo ainda mais abastado.
Kátia Paes
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